Infelizmente a criatividade no filmes americanos está se tornando cada vez mais rara, mais da metade dos filme hollywoodianos são adaptações de quadrinhos, peças de teatro, vídeo games, desenhos animados, livros e até jogos de tabuleiros; talvez agora seja a vez dos animes e mangas caírem nas graças (ou desgraça) dos estúdios dos Estados Unidos.
A primeira aposta foi Dragonball: Evolution de 2009, baseado na obra de Akira Toriyama, foi um desastre que eu pretendo nunca assistir e anos depois temos No Limite do Amanha (Edge of Tomorrow), adaptação de All You Need Is Kill, publicado aqui pela JBC, é originalmente um light-novel criado por Hiroshi Sakurazaka, com ilustrações de Yoshitoshi Abe, transformada em mangá e logo depois no filme.
Nos temos ai dois exemplos de adaptações e whitewashing, termo usado quando um personagem originalmente não branco é interpretado por um ator caucasiano, um filme deu muito errado e outro muito certo.
Primeiro o caso de Dragonball que tem uma trama bem complicada para trazer ao grande publico do ocidente, os executivos devem entender que existem obras que são impossíveis transformar em filmes, a não ser que refaçam todas suas características e se chegar nesse nível é melhor escolher outra historia.
No casting temos até um grande numero de asiáticos e meio-asiáticos, mas Goku, o personagem principal foi interpretado por Justin Chatwin um ocidental que não é famoso, então que mal teria contratar um asiático para o papel. Mas quem disse que os cidadãos do mundo de Dragon Ball são asiáticos? Claro que considerando onde obra foi criada esse pensamento seria óbvio e que o autor criou os personagens a sua imagem e semelhança; os nomes dos personagens também ajuda nesse pensamento, mas a nacionalidade deles nunca foi clara e apesar do planeta ser chamado de Terra, ela com certeza não é a nossa Terra.
A adaptação de Dragonball tem diversos erros de produção, efeitos especiais, equipe de direção fraca, porém o principal erro foi tentar levar a franquia ao cinema.
Agora o No Limite do Amanha já chegou com um nome muito maneiro e escalou o Tom Cruise, um ator de ação que sozinho já leva muita gente pros cinemas, o resto do elenco também foi bem escolhido, a protagonista feminina interpretada por Emily Blunt até ganhou alguns prêmios.
Claro que teve bem mais dinheiro envolvido, mas o diretor, Doug Liman, já acostumado com triller de ação e uma trama que já é mais comum para o ocidente também ajudo no sucesso do filme, tanto em critica como em público.
Eu não li o novel ou o manga, mas parece que poucas coisas foram drasticamente modificadas, os monstros tem um design diferente:
O uniforme de batalha que no filme é um exoesqueleto, mais próximo da tecnologia atual, enquanto no mangá lembra um robô:
Algumas características dos personagens principais também foram modificadas, provavelmente para dar mais valor aos atores, mesmo motivo para que a morte deles fossem amenizadas, do Cage (Tom Cruise) por exemplo eram muitas vezes cortados por uma tela preta. Acredito que foram modificações necessárias, seja por questão de orçamento, ego, efeitos especiais ou credibilidade. Mesmo assim, o diretor recebeu o premio Annual Japan Cool Content Contribution Award, premiação que foca em obras que levam conteúdo japonês ao mundo todo.
O bom dessa adaptação é que não se parece com uma, mesmo sendo a melhor já feita desse tipo de obra, poderia apostar que a maioria das pessoas que foram ver o longa não tinha ideia disso e saíram satisfeita, pensando ter visto um roteiro original.
A poucos meses tivemos o anuncio que o filme ocidental de Ghost in the Shell, que será publicado pela JBC, vai sair do papel e Scarlett Johansson vai ser a atriz principal, isso desagradou muita gente, queriam uma atriz japonesa para viver a Motoko Kusanagi, mas vamos ser sinceros, quem você acredita que vai levar mais público ao cinema?
Ridley Scott diretor de Êxodus, longa sobre historia bíblica de Moisés, sofreu com a escolha do elenco, se fosse escolhido atores árabes ou judeus para os papeis principais o filme tinha um grande risco de ter uma audiência baixa. Até Jesus sempre foi retratado como branco nas telas. É triste, racista, mas é verdade.
Mas ainda sobre Ghost in the Shell, a direção e os roteirista não animam, gostaria que o próprio Stevie Spielberg, dono da Dreamworks, tivesse cuidando do filme ou que entregassem na mão dos irmãos Wachowski, que usaram o anime como principal inspiração para Matrix.
O titulo ainda está em pré-produção, ou seja, temos quase nenhuma informação, muita coisa pode mudar pra melhor ou pior, talvez até siga o mesmo caminho da adaptação de Akira, que eu espero que nunca se concretize; mas eu estou acreditando nesse live-action ocidental, ocidentalizar algumas coisas não vai ser problema, assim como No Limite do Amanha, Ghost tem uma trama muito mundial, podendo facilmente se passar em qualquer grande cidade dos Estados Unidos. A parte mais difícil e que me faz ficar temeroso é que certamente vão mexer na trama, dar uma simplificada.
Agora sobre o Live-action de Attack on Titans (Shingeki no Kyojin) obra de Hajime Isayama que alcançou um grande sucesso rapidamente, figurando sempre entre os mangás mais vendidos, terá sua adaptação dividida em dois filmes que serão lançado no Japão ainda neste ano.
Novamente do destaque a direção e ao roteirista, primeiramente temos Shinji Higushi, que já trabalhou nos animes Evangelion e Nadia, Yûsuke Watanabe que já escreveu as adaptações de 20th Century Boys e de Gantz que mesmo tendo um final muito diferente do mangá, talvez melhor, eu gostei muito e recomendo.
Os trailers tão maneiro, parece tudo muito bom, mas o problema está no casting que só tem asiáticos (asianwashing?), sendo que Attack on Titan se passa em algum lugar da Europa, onde os asiáticos são uma etnia escassa, a maioria dos personagens tem nomes e características físicas europeias, até a arquitetura é bem Velho Mundo e tudo isso é importante para a ambientação, para a trama. Porém não acredito que Attack on Titan pode ser feito por ocidentais, não vou mentir, eu adoraria ver uma loira interpretando a Annie e não sou um fá da interpretação dos japonese; mas provavelmente o longa teria o mesmo destino de Dragonball, então é melhor deixar do jeito que está, não fará muito sucesso nessa parte do mundo, mas vai conseguir uma boa bilheteria no Japão, até o Live-Action de Assassination Classroom conseguiu uma boa bilheteria, não foi?
Adaptar é isso aí, é moldar o produto para atingir melhor o seu publico, talvez não seja possível agradar Gregos e Troianos ocidentais e orientais.